Saturday, June 30, 2007

Malaria ou não!?!

A meio do mês de Abril duas surpresas me tomaram de assalto por estas paragens.
A primeira veio de avião 4 dias antes do meu aniversário. A minha mãe aterrou de surpresa e ia acabar por ser ela a ter a surpresa de ver o filho a viver neste país único :)!
A segunda surpresa apanhou-me dois dias depois dos meus anos.

Acordo num belo dia de manhã sem me conseguir mexer. Dores de cabeça, braços, corpo todo. Enfim, lá me levantei e me fiz à estrada. O problema é que as dores continuavam e acabei por não aguentar e as minhas crises de Crohn lá voltaram. A inicio foi o que pensei, no entanto com o avançar do dia eu lá ia piorando e a febre começou a aparecer.

Para não variar muito e porque os sintomas eram semelhantes lá fui eu para a clinica 222 fazer o belo do teste da malária. Uma hora de espera e o resultado que esperava - nada de malária.

Pois bem lá voltei para casa e mais uma vez a situação continuou a piorar. Entre Ben-u-rons e cházitos fui-me indo abaixo e comecei a delirar.

Não podia ser normal na doença de crohn. Ora bem voltei novamente à 222 de urgência para ser atendido. Claro que novamente me pediram exames de malária e desta vez uma analise ao sangue.

Pois nada no teste da malaria mas o exame às plaquetas davam-nas como estando em niveis muito baixos. Segundo a médica deveria ser malária mas tinha de esperar para aparecer no teste ou para as plaquetas continuarem a baixar.

E foi o que fiz. Passei uma noite de pesadelo onde delirei e delirei, a febre continuava a subir e no outro dia voltei a fazer mais um teste de manhã, desta vez numa outra clinica, onde o teste voltou a dar negativo e onde as plaquetas estavam mais baixas novamente.

Farto da situação e desesperado por não saber o que se passava, voltei para casa e continuei a aguentar na esperança de ser somente uma gripe ou uma crise mais forte. Nada disso, piorei ainda mais e desta vez ja me custava estar de pé.

Pela noite de regresso mais uma vez à clínica 222 fui atendido por um outro médico e novos exames foram feitos. Como tudo dava negativo e as plaquetas continuavam a descer perguntei se seria possivel que fosse malária, pois segundo uma colega dele na vespera era quase certo que se houve-se nova queda de plaquetas que fosse malária.

Ignorou-me, mandou-me para casa e disse que era constipação. A minha mãe estava comigo na sala e queria perguntar mais coisas ao médico. Tive de explicar-lhe que há dois tipos de médicos neste país - os que sabem o que estão a fazer e os que fazem que sabem.

Mal sai do gabinete dirigi-me à recepção e procurei marcar consulta de urgência com a Dra. Eva, a mesma que me atendera na vespera. Pois bem ela não estava disponivel e dirigiu-me para outra Dra. Paula.

Ligaram-me durante a noite a confirmar uma consulta de urgencia devido à minha doença de crohn e ao facto de nem saberem que medicamentos me dar para a malária visto poderem piorar ainda o meu estado.

Ora bem, dia seguinte voltei para mais exames e nova consulta com a Dra Paula. Fui atendido e depressa me fez acreditar que o meu problema era realmente malária. Sim estava com malária, apenas não tinha progredido para fora do fígado e por isso não se encontrava nos testes.

Consultei médicos por todo o lado aqui e em Portugal e sinceramente todos me pareceram perdidos quanto ao que tomar neste caso. Tive de confiar na médica e lá comecei a tomar a minha cura.

Poderia pensar-se que o rapaz aki ficaria melhor imediatamente mas mais surpresas continuaram a acontecer. O meu organismo começou a combater o virus e o proprio medicamento começou a debilitar a minha doença de crohn. Resultado no dia seguinte tive cólicas como não tinha à anos. Dei comigo a gatinhar pela casa e a contorcer-me com dores. Foi horrivel mas ca estou eu.

Ainda regressei nesse dia à clinica e fui atendido por dois médicos em simultaneo - um no consultório e outro que já trazia da rua, Dr Hugo, conhecido de um grande amigo também conhecido opr ai, o Vasco.

O Vasco está na Cooperação Portuguesa e para além do trabalho de apoio social que tem vindo a desempenhar ainda me ajudou com isto.

Foi uma loucura ter um médico a atender e outro de consultor a contrapor as ordens do outro.

Resumindo, a malária estava a passar mas a minha doença a piorar.

Isto coincidiu com a minha viagem de urgencia a africa do sul para tratar do visto. Foram 15 dias para esquecer em que a Malária passou a fazer parte da minha vida.

Agora já temos uma rede mosquiteira ca por casa, prenda dos meus colegas da boa vida cá do sitio e continuamos com a maior colonia de mosquitos que deve haver no Maputo.

Enfim, safei-me desta...

Thursday, June 28, 2007

Back to bussiness

Depois de estar uns 15 dias sem sair de casa e a fugir de tudo o que eram bébés comecei a pensar na minha vidinha outra vez e achei que estava na altura de fazer algo!

Pois bem como a Golo tinha-me posto de lado decidi colocá-los tb de lado e ataquei as Agências concorrentes com mais relevo no mercado. Fiz novos portfolios e entreguei pessoalmente em cada uma das que achei mais significantes. 1 para a Ogilvy, 1 para a DDB e outro para a FCB.

Pois bem das 3 empresas fui chamado por 2 e por sorte do destino acabei por escolher a Publicita FCB, uma empresa com algumas tradição na publicidade em Moçambique e que tinha estado em anos anteriores bem posicionada ao lado da GOLO nas galas de entregas de prémios.

Arrisquei e aceitei um ordenado bem simpático inicial com promessa de aumento passados 3 meses. Como emprego tinha o cargo de Criativo Sénior numa empresa que aparentava ter uma carteira de clientes bem recheada.

A Vânia por sua vez começou passado algumas semanas numa empresa concorrente, Visão Publicidade, como Account.

E enquanto esperávamos que o mês acabasse e os nossos ordenados chegassem fomos procurando casa, começando a criar a nossa empresa e a preparar os processos para dar entrarda do contracto de trabalho, no ministério, com vista a obtenção de visto de residência.

Escusado será dizer que o meu contracto foi atrasando e atrasando, o ordenado foi atrasando e atrasando e o meu visto acabou por caducar após umas quantas viagens a África do Sul.

O dia em que ficamos retidos na Fronteira foi o ponto de viragem e onde começamos a ver a nossa vidinha andar para trás!

Um carimbo de improrrogado fez com que andássemos feitos malucos nas semanas seguintes por forma a regularizar os contractos e a nossa situação aqui.

Enquanto a FCB me ia enrolando o processo lá fomos pondo em pratica a nossa solução da empresa de forma a podermos continuar por ca. Caso contrario teríamos de sair do pais novamente.

E conseguimos obter licenças provisórias para a criação da empresa. No ultimo dia que dispúnhamos regressamos ao consulado Moçambicano a Neslpruit, uma cidade perto da Fronteira já na vizinha África do Sul.

Apesar da nossa esperança o carimbo da fronteira e a falta de alguns documentos não nos garantiram o visto de trabalho e ainda nos pioraram a situação pelo que nos deram 30 dias certos para resolver a situação no ministério do trabalho, caso contrario enviariam a nossa informação para a migração e seriamos deportados.

Aqui a coisa não ficou facil e tive de apertar ainda mais na FCB pelo andamento do contracto. Por esta altura já estava numa casa arrendada há 2 meses e sem nunca ter recebido um centavo que fosse na FCB.
A Vãnia por sua vez estava a receber bem menos do que akilo que negociara e mal dava para os gastos correntes.

Passados quase três meses a FCB lá decidiu enviar os meus papeis do contracto para o ministério do trabalho e deram-me o contracto para que o levasse ao consulado, para regular a situação. Foi a última vez que trabalhei na FCB. Fazia exactamente 3 meses que tinha entrado juntamente com uma colega portuguesa, a Maria e ainda so nos tinham pago os primeiros 10 dias de trabalho.

Por sorte a empresa que formei com a Vânia ficou legalizada e regressamos a Nelspruit cheios de papeis e contractos para nos darem o visto. Após muita conversa e muito fé obtivemos o visto através da nossa empresa e pela apresentação do mesmo papel que nos tinham recusado no mês anterior.

É ridiculo como o primeiro papel que levamos nos mês anterior foi a coisa mais importante desta vez e sem o qual não nos dariam o visto, mas enfim lá o conseguimos.

A doença dos putos

Com 25 anos seria altura para ter juizo não acham?

Quando vim para cá levei vacinas contra febre amarela, sarampo, preventivo da malária, febre tifóide entre tantos exames e reforço de medicação para a minha querida doença de estimação que nunca imaginei que fosse passar mal devido a uma doença de putos.

10 dias dps de ter chegado ao Maputo inscrevemos-nos num ginásio para ir queimando o tempo e umas calorias a mais, mas como o orçamento era curto e os ginasios caros acabamos por descobrir um ginasio bem perto de nós no liceu local.

O preço eram uns miseros 500 meticais (15 euros) e aproveitei.

Passados 15 dias a ir lá com pouco regularidade acabei por cair à cama com febre e nauseas. Primeira suspeita - o tipo tá com malária.

Bem foram dias loucos onde fiz 3 testes de malaria em 3 clinicas diferentes, fui a uma clinica especial a africa do sul onde nem conheciam a doença de crohn e me receitaram so porcaria, e ainda imaginem me atenderam por telefone pois o médico especialista não podia vir e acharam que não era grave.

Epá so passados 4 dias tive a confirmação do que realmente era - papeira- é claro que o meu aspecto de cara à esquilo tb ajudou a demonstrar o que se passava mas não aconselho a ninguém a poder ter este tipo de coisas com a minha idade - sobretudo os gajos ok!

Resumo da nossa vidinha! (parte 2)

Foram uma loucura os primeiros dias aqui! Tudo novidade, tudo diferente, tudo tão estranho.
Os dias passaram a correr e no dia 5 de Janeiro lá começou a nossa luta para arranjar trabalho.

A principio a vinda para Moçambique já estava acordada com a agência de publicidade GOLO, uma agência com 50 anos de história e sem dúvida um dos maiores nomes da publicidade em toda a África Austral.

Mal podia esperar por começar a trabalhar na minha área de eleição. Pois bem, foi com um sorriso nos lábios e um nervoso miudinho que lá fomos para a primeira reunião com a simpática Dona Flávia. Uma senhora com a qual tinhamos acordado tentar a nossa sorte durante alguns tempos e que nos recebeu como ninguém.

No final da entrevista tanto eu como a Vânia ficamos satisfeitos tanto com o espaço como com a possibilidade de marcar nova entrevista para acertar pormenores, visto o Thiago Fonseca ainda se encontrar de férias.

O Thiago Fonseca, é o director criativo desta agência e neto da D. Flávia, a dona desta empresa. Apesar de ter nascido Tiago a publicidade influenciou-o de tal forma que acabou por acrescentar um "h" ao nome para se confundir com algumas dezenas de publicitários brasileiros.

O que se passou de seguida foi ainda melhor pois na segunda entrevista com a responsável pelo departamento de atendimento tudo nos levou a crer que estava por dias a nossa entrada na empresa e somente faltava a última autorização do Thiago e acertar os valores a receber.

Pois meus amigos até hoje estou à espera de um telefonema da GOLO pelo menos para informar que não iriam contar comigo e que seria prudente procurar emprego noutro local.

Durante 1 mês contactei-os semanalmente para marcar a última reunião com o Thiago e após várias desculpas lá acabei por produzir e entregar dois portfolios em CD e impressos, mais CVS e uma dúzia de chamadas não respondidas.

Sem nunca ter desistido de tentar já me começava a fartar de estar parado e em casa sem nada para fazer. Estar nesta terra sem carro é impossível.

Por sorte lá um aconteceu algo que iria animar a nossa vidinha por aki...

Wednesday, June 27, 2007

Resumo da nossa vidinha! (parte 1)

Chegámos em Dezembro a este lindo e maravilhoso país, tendo aterrado neste belo prado de prédios amontoados entre o verde das Acácias e os milhares de depósitos de lixo a céu aberto.
A primeira experiência de quem aterra num país Africano onde estão cerca de 38º e uma humidade assustadora, depois de sair de um pais onde está um frio de morte é sem dúvida uma das recordações que vou manter para a vida.

A primeira imagem que guardei comigo foi no instante que saí do avião - uma parede de calor indiscritivel fez-me retirar quilos de roupa que trazia vestido em fracções de segundos e ficar a transpirar e a arfar durante mais de 30 minutos.

A minha primeira idea foi - já cheguei agora onde posso cair e morrer. honestamente nunca imaginei passar tão mal com o calor e já imaginava viver assim todos os dias enquanto cá continuasse. Sorte a minha que era este um dos dias mais quentes do ano e que o meu corpo lá se foi adaptando ao fresquinho.

O que se passou a seguir vou guardar só para mim pois acho que todos os que cá vierem merecem ter a surpresa que é encontrar algo de tão diferente de tudo. Todo o significado de feio e bonito, de limpo ou sujo e de ser pobre ou ser rico ganham outros contornos que não dá para explicar.

Isto é mesmo outro mundo e a diferença só a notei nesta mesma semana, em Julho quando finalmente instalei TV Cabo e vi pela primeira vez em meses anúncios e programas nacionais. Meus amigos que estais nas europas - vocês estão num planeta tão distante quanto a vossa imaginação o permitir.

Fora isto, os meus primeiros dias de adaptação foram de imediato para assimilar o panorama Moçambicano.

Em 3 dias já tinha ido ao mercado do peixe, comido Matapa e Chima, testiculos de cabrito e sido levado para quintas no meio do nada onde a civilização parece ter parado à cerca de 100 anos.

Posso-vos dizer que adorei e que se não fosse a minha tripa ainda agora só comia manga, caju e camarão com fartura.

Resumo da nossa vidinha! (intro)

Não acredito que já passaram 6 meses desde que chegámos a Maputo. Parece que foi ontem e ao mesmo tempo já temos histórias que dão para uma vida!

Por minha culpa e dos acontecimentos que vos vou contar só agora pude cumprir com o prometido e trazer-vos este diario de emigrante.

Como o inicio fica sempre bem numa história é mesmo por ai que vou começar. Agarrem-se bem aos bancos que a história é longa e me perdoem os pormenores esquecidos mas os traumas tendem a enterrar-se lá fundo no inconsciente e lá devem permanecer por esta hora.