Saturday, November 17, 2007

Reportagem - Ilha de Moçambique

Ao atravessar a longa ponte do continente até à Ilha de Moçambique somos engolidos por um azul intenso do mar. É natural que a primeira impressão ao pisar o outro lado da margem seja a de que chegamos a uma cidade que foi riquíssima em outros tempos e que agora está deixada ao esquecimento.

Somos envolvidos imediatamente por um ambiente que ao principio parece estranho, estamos num espaço de terra pequeno cheio de gente com muitos monumentos antigos e muito mal conservados.

Mas no dia seguinte se for para a rua bem cedo vai descobrir uma enormidade de surpresas. Deambulando um pouco pelas ruas estreitas da Ilha vai constatar que a gentes que ali moram, para além de simples e pobres, são de facto muito simpáticas e acolhedoras. As crianças com os seus sorrisos puros e contagiantes são uma constante em todos os cantos, não se espante se lhe pedirem para tirar uma fotografia para depois verem apenas a imagem no seu pequeno ecrã digital.

A Ilha de Moçambique é uma mistura de religiões e de culturas, é o exemplo vivo de como católicos, muçulmanos e hindus podem conviver harmoniosamente. Ao inicio da manhã e fim de tarde será surpreendido pelos cânticos muçulmanos e não deixe de visitar a primeira capela católica da África Austral. A Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída em1522 na extremidade norte da Ilha de Moçambique, actualmente situada dentro da Fortaleza de S. Sebastião, é o único exemplar de arquitectura manuelina em Moçambique.

Em 1558 teve inicio a construção da Fortaleza de S. Sebastião, é a maior da África Austral . Esta fortaleza ganhou importância quando a Ilha se tornou no maior entreposto para troca de panos e missangas da Índia por ouro, escravos, marfim, e pau preto de África, e era da Ilha que partiam todas as viagens comerciais para Quelimane, Sofala, Inhambane e Lourenço Marques. A desde essa altura que a Ilha de Moçambique se tornou paragem obrigatória nas carreiras da Índia, dando cada vez mais destaque a este porto estratégico. Actualmente está a ser desenvolvido um projecto para a reconstrução da Fortaleza de S. Sebastião.

No entanto, na época para além dos portugueses outros concorrentes europeus apareceram na corrida pelo controlo das rotas comerciais. Os franceses conseguiram assumir o papel de intermediários do negócio da escravatura para as ilhas do Índico, os ingleses começavam a controlar as rotas de navegação nesta região e os holandeses tentaram a ocupação da Ilha em 1607-1608 e como não o conseguiram, devastaram-na pelo fogo.

A reconstrução da vila foi difícil, uma vez que o governo colonial não existia senão para cobrar impostos e estava muito mais interessado nas terras de Sofala. Em1763 a povoação passou a Vila, esta viragem resultou da decisão do governo colonial em separar a colónia africana do Estado da Índia e criar uma Capitania Geral do Estado de Moçambique baseada na Ilha, em 1752. A Vila voltou a prosperar e, em 1810 é promovida a cidade.

A exportação de escravos era o principal comércio da Ilha, tal como a do Ibo mas a Independência do Brasil em 1822, que era o principal destino deste comércio, voltou a deixar a Ilha no marasmo. O golpe final foi a passagem da capital da colónia para Lourenço Marques, em 1898.

Vasco da Gama, Luís de Camões , São Sebastião estas personagens do imaginário da história portuguesa passaram por aqui. Estão presentes na Ilha em estátuas em sua homenagem. De facto, depois de um passeio a pé e de uma observação mais cuidada irá constatar que a grandiosidade que aquelas casas e edifícios tiveram um dia estiveram à altura de tão ilustres individualidades. Camões que viveu na Ilha provavelmente entre 1567 e 1569, escreveu:

“Esta ilha pequena, que habitamos,

É em toda esta terra certa escala

De todos os que as ondas navegamos...”.

Esta é talvez a altura ideal para passar pelo Museu da Ilha de Moçambique, muito bem conservado é um local que ajuda a reconstruir a história de Moçambique e de Portugal. Se tiver a sorte de ter um guia tão bom como eu tive ficará a perceber a ligação estreita que existiu desde essa altura e que perdura até aos dias de hoje entre Moçambique e Portugal.

O edifico onde funcionava o hospital e hoje serve de albergue a algumas famílias conserva a imponente fachada que não deixa ninguém indiferente. O edifício do Tribunal também é digno de uma visita, a igreja de Santo António mesmo encostada ao mar proporciona paisagens fantásticas, todos os cantinhos da Ilha têm algo a descobrir.

Depois, não hesite e meta-se num barco à vela que poderá encontrar facilmente no mercado do peixe e rume até à Praia das Chocas. Garanto que não se irá arrepender, para além de ter uma vista lindíssima da Ilha, as Praias das Varandas, Carruscas e Chocas com água cristalinas são inesquecíveis.

Este é de facto um lugar ideal para quem gosta de praias desertas e paradisíacas e para quem gosta de descobrir um pouco a mais de história. Este lugar deixado ao esquecimento de muitos e idolatrado por outros pode proporcionar momentos de magia simples mas carregados de simbolismo.

Características da Ilha

A Ilha de Moçambique é uma cidade insular situada na província de Nampula, na região norte de Moçambique. Esta pequena cidade foi a primeira capital do país. Devido à sua história rica e com um interessantíssimo património arquitectónico, a Ilha foi considerada pela UNESCO, em 1991 Património Mundial da Humanidade.

A Ilha tem cerca de 3 km de comprimento e 300/400 m de largura e está orientada no sentido nordeste-sudoeste à entrada da Baía de Mossuril. A costa oriental da Ilha faz com as ilhas irmãs de Goa e de Sena, também conhecida por Ilha das Cobras, a Baía de Moçambique. Estas ilhas, assim como a costa próxima, são de origem coralina.

Arquitectonicamente, a Ilha está dividida em duas partes, a "cidade de pedra" e a "cidade de macuti", a primeira com cerca de 400 edifícios, incluindo os principais monumentos, e a segunda, na metade sul da ilha, com cerca de 1200 casas de construção precária. Actualmente, a cidade é um município, tendo um governo local eleito. De salientar que este pequeno espaço habitacional tem já uma população bastante numerosa e a avaliar pelo número de crianças que encontramos ao longo da Ilha tenderá a aumentar grandemente nos próximos anos.

A Ilha de Moçambique está ligada ao continente por uma ponte com cerca de 3 km de comprimento, construída nos anos 60.

Guia do Viajante

Localização: Norte de Moçambique, Província de Nampula. A uma latitude aproxinada de 15º02' S e longitude de 40º44'E.

População: De acordo com o censo de 1997, tem 42 407 habitantes

Clima: A época das chuvas decorre de Novembro a Março é também uma época muito quente para visitar esta zona do país. O período entre Maio e Outubro é o mais propício para viajar em Moçambique a temperatura é mais amena.

Moeda: A moeda moçambicana é o Metical, e 1 Euro equivale a cerca de 34 meticais.

Língua: Português

Saúde: É aconselhável a profilaxia da malária, indispensável sobretudo na época das chuvas.

Transporte: A TAP tem ligações a Maputo com várias frequências semanais. ALAM e a Air Corridor têm voos diários para Nampula, que fica a cerca de duzentos quilómetros da costa. Para fazer este último percurso, é possível alugar uma viatura em Nampula. A melhor forma de conhecer a Ilha é a pé, com apenas 3 Km não há a necessidade de trasnporte.

Onde ficar: Para dormir, há alguma oferta de qualidade variável. Se optar pelo mais tradicional a melhor opção na Ilha de Moçambique é o Hotel Omuhitipi, situado junto ao forte de S. Sebastião. Mas se gosta de locais mais familiares e de acordo com o espírito local pode optar pelo Escondidinho, Casa Branca, ou Casa Gabriel. Para comer, aconselham-se o restaurante Relíquias, ou então o restaurante do Escondidinho que tem uma comida internacional óptima. Em ambos se pode degustar a gastronomia da ilha.



Beijinhos,
Vânia

2 comments:

Magali said...

Que fotografias bonitas! Locais lindos! Bjs

Carla Ribeiro

Luísa said...

Olá!

Vocês trabalham em que área?

Se precisarem de uma enfermeira obstetra contactem-me

lavicente@gmail.com

Beijinhos